sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Loucas, sempre loucas

Três amigas me ligando/escrevendo chorando porque estão machucadas física e emocionalmente. Todas professoras e pesquisadoras como eu. Os agressores também. É muito homem doente e desequilibrado seguindo o mesmo roteiro de perversão e violência: a mulher é phoda na profissão, bonita, independente e sexualmente super ativa. O cara fica alucinado, quer porque quer namorar/casar e tudo. Quando ele comeca a perceber que tudo aquilo que o atraiu também atrai outros homens, começa a tortura: ele exige afastamento de alguns amigos, invade contas de imeio, zap e inbox de fb, começa a dar vexame publico: esmurrar outros homens enquanto privadamente vai chamando a mulher de velha e gorda - como aconteceu com uma dessas amigas. Ao mesmo tempo as juras de amor aumentam publicamente na mesma velocidade das desculpas e planos para o futuro. Frágil e apaixonada, a tortura no privado permanece, as brigas aumentam e as agressões e humilhações pioram: empurrões, xingamentos, términos seguidos de sexo louco: "eu preciso comer outras mulheres pra saber se é isso mesmo o que eu sinto por você e porque o seu passado ...". Quando a mulher se dá conta das violências na maioria das vezes não sabe o que fazer porque o agressor é gente boa de doer com a geral e ela está destruída. Pra piorar: se ela revida às agressões físicas e humilhações, pronto: a trama se fecha. Todo mundo sabia que ela era louca. Louca porque gosta de namorar. Louca porque vive a própria vida. Louca porque ela namorou sei lá quem. Louca porque tem senso de humor. Louca porque não tem. Louca porque sabe se colocar na linha de frente. Louca porque não apagou as mensagens de uma história de 2017, louca porque apagou mensagem privada e "aí tem coisa", como a outra amiga. Louca porque não quer engravidar com mais de 40 anos. Louca porque ele quer mais um filho e ela também quer. Louca porque defendeu o amigo de um ataque homofóbico aos gritos. Louca. Louca. Louca. Uma dessas amigas ouviu do ex que ela tem o gênio difícil, "muito conflitiva". Sempre louca. Nossas mães eram loucas. Nossas avós eram loucas. Louca porque a mulher precisou tirar forças de algum lugar pra seguir adiante. Pra explicar para os filhos as violências, os xingamentos na frente deles, os silêncios dos que se aproximam e somem, explicar os roxos pelo corpo, as brigas pelas bebedeiras e bebedeiras, as mentiras, as humilhações. Somos as loucas independente de qualquer coisa. Sempre fomos e sempre seremos. Quietas ou falantes. Já os agressores são sensatos, equilibrados, ponderados até a próxima louca aparecer e ciclo se repetir à exaustão. O agressor de uma dessas amigas era fofo - ao menos eu cai nessa esparrela de achar isso. Chorei muito com o sofrimento e os soluços das minhas amigas. Se você é mulher e nunca passou por isso: que bom. Você não precisar pisar nos Alpes suíços para comprovar que eles existem, né?! Seja empática com as mulheres. Seja mais empática ainda com as mulheres que romperam o silêncio e passam a conviver com os olhares tortos das outras mulheres no ambiente de trabalho. Seja mais mais mais mais mais mais mais empática ainda com as mulheres que não tem força para romper com o silêncio: por medo da exposição no ambiente de trabalho - como é o caso das minhas amigas -, de reviver as violências na infância, da culpa imensa porque ela respondeu à violência sofrida com violência. Seja empática e respeite-as. Escute-as: elas precisam falar. Estenda a mão mesmo que essa mão não seja mais a mesma porque um dos dedos está torto pra sempre em razão de uma fratura por agressão.

Loucas, sempre loucas

Três amigas me ligando/escrevendo chorando porque estão machucadas física e emocionalmente. Todas professoras e pesquisadoras como eu. Os ...